Aparecida Ramos -  Prosa e Verso

Palavras que a alma e o coração não calam.

Textos








O MENINO SEM NOME





Nesses últimos dias os meus dias tem sido muito tristes. Não entendo como a vida pode ser tão generosa com muitas pessoas, e tão cruel com muitas outras. Ninguém nasceu para sofrer nem para morrer de forma trágica, sem ao menos ter vivido. Ninguém merece nascer e vegetar, apenas. Não acredito na predestinação.
Ontem, meu coração que já estava machucado, sofreu mais uma dor terrível. Um dos "meus" meninos da Praça
( Texto: Um Dia de Madrugada) sofreu um acidente quase fatal. Uma tragédia dessas que deixa todas as pessoas da cidade comovidas, chocadas e muito tristes. Dada as circunstâncias de fatos como este, as pessoas, às vezes, comentam em voz baixa: "se fosse acolhido em casa, talvez não tivesse acontecido". Ele mal completara doze anos. Era surdo-mudo. Sem nome, atendia por apelido, assim como atendem os demais membros de sua "família".
Filho não planejado, não desejado, não sonhado e... muito menos amado. Pais "sem noção", sem condições de serem pais, nem parentes. Filhos sem atenção, sem carinho, sem cuidados, sem AMOR!
O menino sem nome não teve forças para resistir, não suportou as dores. Seu corpo franzino para sua idade, hoje é um a menos no grupo dos "meninos da Praça". E passou a ser um anjo a mais a integrar o exército celestial, lá num mundo onde não há acidentes, nem exclusão, nem discriminação, nem as pessoas precisam ter um nome para viver como gente, viver com dignidade.
São mortes de pessoas que não tiveram direito de viver em plenitude, que não tem ou não tiveram infância, nem juventude. Que, embora adultos, sobrevivem de forma humilhante, degradante. São pessoas que se tornaram invisíveis aos "olhos do mundo", nesse mundo imundo, onde o ter se sobrepõe ao ser.
Minhas dores e minhas lágrimas, talvez não sejam só pela perda, mas eu sofro muito mais pela vida que a pessoa não viveu.
(Desculpe-me se causei-lhe algum mal-estar. Mas eu tinha que dividir isso com alguém).

Isis Dumont
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 01/12/2011
Alterado em 05/12/2011
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