No caminho rastros de histórias se erguem e vão se avolumando. Imagens vão sendo construídas, exibindo caricaturas nas remotas lembranças. As conversas silenciaram, enquanto os risos discretos repousam sobre as molduras da saudade. As pessoas já não vivem mais naquele lugar. Haviam tantas coisas, agora ocultas perante o olhar petrificado da vida, que mal consegue dar alguns passos em direção ao rio, cuja água desapareceu inexplicavelmente. Existir naquele lugar tornou-se cruel, impossível. A vida desapareceu sutilmente em meio ao farfalhar das folhagens, agora sem vida repousando sobre o chão. A atmosfera instável traz um insuportável aroma de mofo. Os córregos estão secos e se recusam a respirar o ar que se tornou superaquecido.
Após a sinistra morte restam todas as lembranças e os instantes quentes, servidos em bandejas adornadas de labaredas vermelhas-escuras e fumegantes. Os cantos repetidos pelo eco que vinha do vale, foram afogados. Ninguém existe para ousar destravar as entradas daqueles muros silenciosos. Sequer uma réstia de luminosidade sobrou para despertar o surgimento de um átomo que sinalizasse algum vestígio de vida.
Apenas as palavras repousam sobre a areia, como se fossem pegadas aguardando o retorno das chuvas no inverno incerto no ano seguinte.
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