Aparecida Ramos - Prosa e Verso
Palavras que a alma e o coração não calam.
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Descendo ao Sótão




 
 
 
Costumava dormir cedo, geralmente antes das 22:00h. Naquela noite era quase 01:00h da manhã, e não conseguia relaxar. Foi a primeira vez que precisou dormir sozinho no casarão, para onde a família se mudara havia três meses. Um problema dermatológico o impedira de viajar junto aos demais membros, para o exterior no início daquela noite. 

Sua mente estava confusa. Pensamentos esquisitos o atormentavam, insistiam em chamá-lo para descer até o sótão. Nunca havia adentrado lá depois do pôr do sol. Antes de vir habitar aquele casarão antigo, ouvira várias vezes, de alguns moradores da região, histórias de aparições misteriosas naquele lugar. Entretanto, sua família não deu importância ao que achava ser apenas boatos ou especulações... 

Preocupado e um tanto assustado, decide tomar um calmante daqueles que sua mãe utilizava, mas só metade da dosagem, afinal estava fazendo auto medicação, que não é recomendado. Espera ansioso o efeito do medicamento, mas a insônia persiste.  Levanta e decide assistir um filme, entretanto não consegue se concentrar. Sua mente está bastante perturbada. Parece ouvir uma voz em seu interior a dizer-lhe, insistentemente: “Vai ao sótão! Vai ao sótão!” 

Desliga a tv, aborrecido e tenso, retorna para o quarto, mas aquele convite estranho não desgruda de seus pensamentos: "Vai ao sótão! Vai ao sótão!" Irritado, muito cansado e sentindo tontura, sai do quarto e decide obedecer sua voz interior. Precisou apoiar-se-se nas paredes, pois a lâmpada mal dava para ver a escada. 
Naquele momento sente as vistas escurecendo, suas mãos estão trêmulas e seu corpo está debilitado. Com as pernas cambaleando resolve sentar-se. Sente arrepios e em seguida, calafrios. Sua boca, olhos e narinas estão ressequidos, queimam como se estivesse à beira de um fogaréu. Há uma sensação de angústia muito grande. Seu corpo está curvado, seu rosto próximo aos joelhos. Uma terrível sensação de abandono se apodera de si. Pensa em gritar por socorro, mas a única residência mais próxima fica a mais de cem metros dali. 

Gritar não adiantaria, ninguém iria ouvir-lhe àquela hora. Mesmo assim, tenta chamar o vizinho, mas sua voz está retida. Não consegue ouvir som algum. Num esforço sobre humano consegue reguer-se. Olha para baixo, sem enxergar direito, ainda assim percebe que está a dez degraus daquele quarto escuro, empoeirado e cheirando a mofo. A passos lentos e tentando não perder o equilíbrio continua a descida. Seu aspecto é assustador. Sente a atmosfera sinistra que paira naquele ambiente. 

Animais voadores de hábitos noturnos começam a sobrevoar sua cabeça. Parecem prontos para o ataque, dispostos a sugar-lhe o sangue até a última gota. Seus braços estão cada vez mais pesados, mesmo assim consegue levantá-los e tenta dispersar o bando de "sanguessugas" de asas. Trava-se ali uma luta terrível. Os morcegos não querem lhe deixar em paz... 

Uma sensação de impotência e desespero toma conta de si. Começa a chorar, compulsivamente, imerso naquele cenário de horror. De repente, ouve um estrondo, consegue visualizar um rastro de fumaça vindo em sua direção. Um odor de pólvora invade suas narinas. Em seguida, ouve gritos, um misto de vozes de homens e mulheres, em tons  agudos e desesperados povoam seus ouvidos. Seus tímpanos começam a doer. Sempre teve audição sensível, desde criança. Braços com mãos escabrosas começam a surgir das paredes de todos os lados. Sua visão desaparece, literalmente. Sem forças... desfalece.  As 10:00h da manhã acorda faminto, com a roupa encharcada de suor, e se dá conta que teve um terrível pesadelo.
 



Isis Dumont
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 11/03/2013
Alterado em 28/01/2017
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