Aparecida Ramos - Prosa e Verso
Palavras que a alma e o coração não calam.
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DESCOBRI QUE PRECISO DE COISAS

 
Descobri que ando precisando de coisas, mas não é ou não são quaisquer coisas. Quem disse que sou dessas que se contenta com qualquer coisa? Quero sim algo a mais, algo que me leve a sentir que essa vida pode parecer difícil algumas vezes, mas ela é grandiosa e maravilhosa; só precisamos ser criativos e, de vez em quando, reinventá-la. É que quase sempre estou querendo mais... Mais música com mais qualidade, mais viagens agradáveis e em boa companhia; (mesmo que seja eu mesma minha própria companhia); mais amizade, mais amor e afetos verdadeiros; mais conversas que me façam rir e querer permanecer conversando; mais sinceridade e franqueza nas palavras; mais inspiração para que surjam mais e melhores versos e prosas; mais tempo para ficar sentindo sua mão em meus cabelos e seu olhar dentro do meu; enfim, como vê, estou realmente sempre querendo mais, porque o pouco ou "qualquer coisa" me limita, me cansa, me entedia, me irrita e não me satisfaz.

Certa vez, quando Mário Jorge ainda estava nesse plano, ao chegar de uma de suas muitas viagens, mau humorado, me viu pensativa, com olhos tristes e mexendo delicadamente em um ramalhete de rosas no jardim. Eu estava tão ausente, mas tão ausente que nem o vi adentrando o portão da garagem. De repente, um som gutural desses que deixa qualquer mulher (que esteja convivendo com um homem desse tipo) receiosa, pensando no que está prestes a ouvir. E foi exatamente o que aconteceu: Mário estava com a fisionomia embrutecida, tão estranho como eu nunca tinha visto antes, pelo menos não me recordo. O problema maior foi porque ele já me observava de longe, dessa forma não pude disfarçar.
Desde que o conheci em uma festa familiar na casa de uma amiga, percebi que ele era muito perspicaz e observador; enxergava detalhes minuciosos que você, se eu te contasse, não iria acreditar. Então, quando ouvi seus ruídos, Mário já estava a dois passos, e com o olhar fixo no meu. Ali, foi logo perguntando em voz alta: "Em que diabos você está pensando, com essa cara de songa monga?" Esse berro logo chamou a atenção das crianças que brincavam de polícia e ladrão, do outro lado do muro. Elas, repentinamente, largaram a brincadeira e vieram correndo, curiosas, para saber o que havia ocorrido. Eu fingi, com um sorriso amarelo que tudo estava bem, e pedi que elas se afastassem e continuassem brincando. Prometi que à tardinha iria levá-las para a Sorveteria da esquina, e que as deixaria escolher o sabor de sua preferência.
Cada vez que Mário Jorge me tratava assim, sem perceber, ele acabava ainda mais me distanciando dele. Algumas vezes, inclusive, tentei conversar e fazê-lo compreender o quanto esse comportamente rude, o quanto suas atitudes e palavras precipitadas poderiam acabar estragando nosso relacionamento, mas ele nunca aceitava que errava. Na sua ignorância e arrogância, Mário nunca percebeu que, já naquela época, eu, mesmo inconscientemente, precisava de algo mais. Ainda bem que ele viajava bastante e quando retornava não ficava muito tempo conosco, apenas o suficiente para matar a saudade das crianças e resolver algumas coisas burocráticas, algo que eu não conseguia sozinha, a exemplo de questões com alguns funcionários.

Transcorrida uma semana  após o episódio desagradável, Mário viajou novamente, e foi dessa vez que jurei para mim mesma que, daquele dia em diante eu iria me posicionar de maneira diferente. A vocês eu conto: eu havia conversado com uma amiga de infância, que é psicóloga, e ela me indicou um livro excelente, que trata desses assuntos de família, e principalmente sobre relacionamentos problemáticos. Embora a nossa relação não fosse das mais difíceis, eu entendi que precisava mesmo ler livros como esse, por isso logo adquiri, e foram essas leituras e reflexões que me ajudaram muito, não somente a mim e a minha família, mas a algumas amigas e vizinhas que viviam ou vivem situações semelhantes ou piores.

 
Já faz muito tempo que Mário Jorge partiu, mas eu ainda agradeço pelos percalços vividos juntos, situações que me fizeram compreender que desejar coisas, nunca é demais.

E agora mais do que nunca, descobri que ando precisando de coisas, dessas coisas que não se encontram em qualquer canto, nem em qualquer pessoa. Posso lhes assegurar que são coisas assim... especiais, a exemplo de: trabalhar menos e possuir um esconderijo onde ninguém me encontre quando eu estiver reclusa, sozinha com as minhas letras!
Apenas isso!
Autora:
Aparecida Ramos
08/10/2019, às 01:07
www.isisdumont.prosaeverso.net

 
 
 
 
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 08/10/2019
Alterado em 21/11/2019
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