Aparecida Ramos - Prosa e Verso
Palavras que a alma e o coração não calam.
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Deixem-me "voltar" no tempo


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   Eu, apesar de estar habitando este Recanto há seis anos, ainda não tive tempo de contar a vocês.
   Meus dois primeiros anos de escola foram na "casa da professora." Sim, a sala de aula era também a sala da residência. Era bastante comum a existência de outros espaços como uma sala a mais ou corredor para acolher a turma. Lá, os alunos ficavam misturados com as crianças, filhos de nossa mestra. Mesmo sendo "leigas" muitos adultos, inclusive nossos pais e avós as tratavam dessa forma. Lembrando aquele ditado popular: "Em terra de cego quem tem um olho é rei."
   Entretanto, voltando a falar da minha trajetória ainda que não tenha nada de extraordinário, eu quero partilhar isso com vocês... A professora além de ministrar as aulas era responsável pelo preparo do lanche, também chamado de merenda. O fogão era à lenha. Algumas vezes, a mesma precisava que algum de nós desse uma mãozinha, mexendo o alimento ou observando aquela grande panela enquanto cozinhava. Outras vezes íamos pegar água no açude para utilizar no preparo da merenda e, posteriormente lavar a louça. Geralmente esses mananciais ficavam próximo à residência. Água encanada, nem sabíamos que existia. Obviamente corríamos certos riscos, afinal éramos crianças na faixa etária entre cinco e doze anos.
    A turma era multisseriada e, isso tornava o trabalho ainda mais difícil. A professora se desdobrava para atender os alunos nas diferentes séries. Por outro lado, de certa forma, saímos no prejuízo pela precariedade do ensino. Mas eram as condições difíceis, as durezas da vida naquele tempo que faziam com que muitos alunos aprendessem a "ler, escrever e contar." Esse era o principal objetivo de quem ia para a escola numa época em que, nem todos tinham esse direito. Entretanto, eram muitos os que não aprendiam, pois, as dificuldades de aprendizagem sempre existiram...
  Apesar das muitas adversidades eu consegui aprender o suficiente não apenas para "passar de ano", mas para almejar aprender sempre mais.
    Lembro-me de certo dia, quando estava na alfabetização, falei para minha mãe que não queria estar estudando com a tal professora, porque, tudo que a mesma me mandava ler ou escrever, eu já sabia. Era isso mesmo, não por eu ser mais inteligente, mas (hoje) vejo que era pela ausência de planejamento das atividades. Isso atrapalhava muito o ensino. E a minha facilidade para a leitura, inclusive aprendi a ler antes da escrita, era devido ao convívio com a literatura de cordel que meu pai (poeta) trazia para nossa casa. O fato é que eu insisti, esperneei rs, e minha mãe acabou cedendo, dois meses após iniciar o ano letivo eu passei a frequentar outra escola-"casa da professora."
Há um detalhe ainda: lembro-me como se fosse hoje. Na época da colheita havia em um canto da sala um paiol de milho ou de feijão, secos, porque o esposo da professora era agricultor ou produtor rural.
    Eu sinto orgulho de meu passado, de tudo que passei, de tudo que vivi ou vivenciei. O que foi bom me fez crescer, e o que foi ruim ou negativo me fez aprender mais sobre a vida, me fez enxergar melhor, me deixou lições.
  Agora, a menina de outrora, que nunca desperdiçou sequer uma linha do caderno, nem usou farda antes de completar 20 anos de idade. A menina que durante todo curso, antigo primário, nunca utilizou um caderno de matérias, nem conduziu o parco material escolar numa mochila, agora está prestes a lançar seu primeiro trabalho literário.
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Breve falarei sobre a realização desse grande sonho.
Um beijo carinhoso para cada um de vocês, responsáveis também por isso.
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 17/04/2018
Alterado em 18/04/2018
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