A DOR DA DESPEDIDA Em carta, filha de cinegrafista morto, diz que teve "despedida mais linda"
"Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno", escreveu. "Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter."
O cinegrafista teve morte encefálica diagnosticada na manhã desta segunda, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Santiago foi atingido na cabeça quando registrava o protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio, na quinta-feira (6). Leia o texto de Vanessa na íntegra:
Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai.
Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!
Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.
Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.
Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.
Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.
Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.
Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.
Obrigada a todos. Ele também agradece.
Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai.
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G1
Triste, emocionante, comovente!
Como as autoridades foram deixando que o país chegasse a esse "estado de barbárie"?
Quais as responsabilidades que os políticos brasileiros tiveram e tem sobre o que está acontecendo? O que estão fazendo (os parlamentares) para que se restabeleça a "ordem" sem ferir o direito à livre manifestação?
Como seria bom se tivéssemos respostas (convincentes, concretas) para estas e outras questões. |