Poema Residual De tudo ficou um pouco. Dos medos na tempestade, dos gritos que vem da rua, da ternura ficou um pouco da minha e também da tua. Ficou um pouco de anseio pelo dia aguardado, do pensar como seriam os raios do sol no serrado. Ficou um pouco do perfume deixado de tuas roupas, um pouco do pó que à noite cobrira teu chapéu e teus pretos sapatos. De tudo ficou um pouco. Fica um pouco da canseira nos alvos lençóis de seda jogados sobre a poltrona. Um pouco da travessia percorrida a passos largos na procura do ocaso. De tudo ficou um pouco. Do teu rosto delicado, da metrópole sanguinária, do trânsito tumultuado; da tempestade caindo sobre as copas frondosas do arvoredo no bosque. De tudo fica sempre um pouco. Do olhar da tua filha no teu injusto silêncio. Um pouco, ficou um pouco na passarela resmungona; nos muros em volta de ti; nas flores, rosas abrindo encantando teu olhar. Ficou um pouco de tudo na bandeja do café; sonho levantado na proa, espuma alva a sorrir. Ficou um pouco de ruga na tua testa, retrato. Se de tudo fica um pouco, por que é que não ficaria um pouco também de mim? No trem lá na zona norte, no barco onde passeamos, cruzando nossa esperança naquele braço de mar? Nos anúncios de jornal? Um pouco de mim no porto? Um pouco de mim no shopping? Na consoante suprimida? Nas embalagens amassadas, do presentes que trocamos? Um pouco fica pendente nas pegadas junto à fonte; no colorido dos peixes nadando livres no rio. Histórias que deixam um pouco, um pouco que livros não contam... De tudo fica um pouco. Não muito de uma lâmpada, piscando inconsequente. Dessa gravata de seda; desse incômodo celular. De nosso infantil segredo... De tudo fica um pouco. De mim, de ti, de Drummond. Meu cabelo em tua roupa, uma mordida em teu queixo; teu hálito em minhas narinas; simples arroto, gemidos de poros inconformados, de minuciosos detalhes, abajur, quarto, aconchego; munição sobre o asfalto, de revólver... de apracur. De tudo ficou um pouco. Se de tudo fica um pouco... Oh! Pega o shampoo sobre a cômoda, lava tua cabeleira de raros fios queimados pelo sol que o tempo traz; e abafa esse insuportável cheiro de memórias atrás da porta dos fundos. Isso é fato comprovado, fica um pouco de tudo, sob o brilho das estrelas, sob o encanto da lua, sob o bailado das ondas, sob os olhares da rua, sob pontes, sob túneis, sob minha pele nua... Sob o calor, sob escândalos, sob repetidos suspiros, sob asilos e orfanatos, sob corruptos e mortes, consequências desses "atos"; sob igrejas triunfantes, lotadas, alienantes... Sob tu e sobre mim; sob os laços de família; e dos sonhos nos possuindo. Às vezes uma ponta de rama. Um graveto no cercado. Um arco-íris sumindo em um caminho cruzado. Às vezes só nas batidas do coração adolescente... - O regato. - O jardim. - O mato. - O sol nascente. Aparecida Ramos/Isis... Inspiração em "Resíduo" no Livro "A Rosa do Povo" Carlos Drummond de Andrdade. ********************************** Voltando hoje e agradecendo, tirando o chapéu e aplaudindo (de pé, dejoelhos) com meus maiores e melhores sorrisos a todos e todas que por aqui estiveram, quando estive ausente durante esses dias.
Visitando vocês brevemente (amanhã)! Morrendo de saudadesssssss!!!!! Com todos os beijos intensos nas bochechas de cada um e cada uma rsrs! Isis... Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 07/09/2013
Alterado em 07/09/2013 Copyright © 2013. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |