Entre Brumas de Inverno
O sono naquela noite resolveu se ausentar para dar lugar às lembranças trazidas pelo vento no final da tarde. Pensamentos vestidos de uma ousadia incomum vagavam, iam e vinham carregados, trazendo em seus malotes, palavras e gestos, sensações e emoções vividas certa vez. A respiração e os doces ais que um dia seu coração acolheu, estavam mais presentes do que nunca. Seus ouvidos, por mais que se esforçassem não conseguiam ouvir outro ruído. Voltar no tempo e rever aquele olhar que um dia roubara-lhe a paz, fez com que desejasse sentir e viver tudo outra vez. A manhã chegou fria e convidativa, dessas que deixa a pessoa com vontade de permanecer o dia inteiro embaixo do cobertor. Uma forte sensação de tristeza e angústia invade-lhe o coração, que mesmo desapontado convida-lhe para sair. Decide ouvi-lo e sai, ainda indisposta pela noite de insônia, decide caminhar. Quem sabe, ao retornar tivesse evacuado da mente e da alma aquelas cenas que tanto lhe atormentam. Caminha entre brumas de inverno. Percorre caminhos solitários e visita a campina florida onde um dia estivera acompanhada, quando inocentemente acreditara ter encontrado o grande amor de sua vida. Arrisca-se a subir o monte. De lá mira o vácuo distante... sem brumas, sem campina, sem flores, sem monte, sem sonhos, sem esperança, sem nada... Sua visão turva não consegue esconder as lágrimas que nem o tempo irá enxugar. Outros invernos e brumas, talvez virão, no entanto nada irá mudar. Sua paz estaria em outro lugar. Ao pé do monte tudo fora reconstituído igual no "sonho".
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 14/07/2013
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