No último dia 16 de novembro, estando a passeio em Fortaleza, tive, felizmente a oportunidade de visitar a X Bienal Internacional do Livro, no Centro de Eventos do Ceará.
O Evento foi palco de extensa programação, visando , entre outros objetivos, resgatar a história da Padaria Espiritual - movimento artístico carense que em 1892 escandalizou a pequena Fortaleza.
Padaria Espiritual (O pão do espírito para o mundo)
A Padaria Espiritual se originou do espírito revolucionário de um grupo de jovens que se reuniu em forma de sociedade para, através das letras, protestar contra a burguesia, o clero e tudo que fosse tradicional, como consta de seu programa.
Foi no Café Java, com o apoio do seu proprietário, conhecido como Mané Coco, que apesar de não ser intelectual, cedia com muito gosto o lugar para as reuniões desse grupo de jovens, chegando até a preparar depois um “quiosque” separado para a Padaria.
No início, era um grupo pequeno, com Antônio Sales, Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Temístocles Machado e Tiburcio de Freitas. Esses jovens conversavam sobre literatura, daí surgindo a ideia de formar um grêmio literário. Eram todos muito novos, sendo Antônio Sales o único que tinha livro publicado.
A ideia central era despertar no povo o gosto pela literatura, que andava um pouco esquecida. No entanto, já havendo precedentes de sociedades literárias de caráter formal, burguesa e retórica, decidiram que só valeria a pena se fosse uma coisa nova, original e até mesmo escandalosa, que repercutisse amplamente. Antonio Sales lhe deu o nome de Padaria Espiritual, que teve ótima aceitação, e logo depois fez também o programa de instalação da sociedade, que foi um verdadeiro sucesso, tornando-se conhecido de todos e chegando, até mesmo, a ser publicado integralmente por jornais de outros Estados.
O próprio Antônio Sales conta, no seu livreto Retrospecto, a história da Padaria, que diz muito do espírito de seus membros.
…a história da Padaria Espiritual a contar do dia em que entre o espanto da burguesia ignara, Ella afirmava a sua existência social na noite de 30 de maio de 1892, no prédio n.105 à rua Formosa. Festa original, essa onde a boa gargalhada substituía ao tonitroar da rethorica sediça e narcótica, destoando travessamente das lúgubres noitadas que se passam no recinto dessas sociedades literárias hirtas e parvas com os seus estatutos massudos, as suas actas de Irmandade do Sacramento e a sua discurseria impante de eloquência de circo de cavalinhos – redundadndo tudo numa esterilidade desoladora e numa vulgaridade idiota. Pela primeira fornada da Padaria viu logo o povo que se tratava de uma cousa nova, que tinha chiste porém que não parecia muito sério, na acepção dada commummente a esta palavra… (Da Net)
Homenageados
Wole Soyinka (Nigéria) – Dramaturgo nigeriano, agraciado com o Nobel de Literatura de 1986.
Rafael Sânzio de Azevedo (Ceará) – Poeta, ficcionista e ensaísta. Doutor em Letras pela UFRJ, com tese sobre A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará, Sânzio de Azevedo ingressou na Academia Cearense de Letras em 1973, passando a ocupar a Cadeira no.1 , que tem como patrono Adolfo Caminha.
José Cortez (Rio Grande do Norte) – Dono da Cortez Editora, criada há três décadas, José Xavier Cortez, é um ex-lavrador que se tornou um dos principais editores do Brasil.
Francisca Clotilde (Ceará): Contemporânea da Padaria Espiritual, escritora, professora, jornalista, abolicionista, foi pioneira na literatura cearense, tendo integrado o Clube Literário e promovido a inserção da mulher na literatura brasileira.
"Adorei conhecer esse Evento! Penso que um lugar assim a gente tem que chegar quando os portões se abrem, trazendo mochila com lanche e água para passar o dia, e só ir para casa quando os portões forem se fechar à noite rsrs.
Quero partilhar com vocês esse momento de deslumbramento em meio às dezenas de Stands, onde a literatura estava, senão ao alcance do bolso, mas das mãos, do olhar e do coração rsrs. Realmente, não deveria ser assim, mas livro custa caro, muitas vezes pode ser comparado a "artigo de luxo"."
Isis Dumont