MONÓLOGO DE UM ARBUSTO
Eu mereço não ser apreciada nem sequer sou vista por algum aventureiro através de um voo razante... Eu mereço ser desprezada e não servir de abrigo para pequenos animais nem mesmo aqueles de hábitos noturnos. Eu mereço não chamar atenção de passantes nem das crianças com as quais sonhava no passado... Eu muitas vezes perdida em meus pensamentos, as via em meio à algazarra brincando em volta do meu tronco. Pobres e inúteis sonhos levados à força pela força do vento de todas as estações! Eu mereço ter crescido pouco, ser essa coisa raquítica, de raízes superficiais, que mal me sustentam ao solo. Eu mereço nunca ter sido aconchego para as avezinhas construírem seus ninhos à espera do nascimento de seus filhotinhos. E olha... que eu acho isso o máximo! Fico boba quando de longe, disfarço meu olhar invejoso e através de minhas lentes miúdas vejo as mamães trazendo alimentos e colocando nos biquinhos entreabertos de seus filhotes ainda cheios de penugens no ninho... Eu mereço ter galhos esquisitos, sem folhas, nem flores, nem frutos... Qual ser vivo almejaria repousar em minha sombra se nem isso eu tenho para oferecer? Qual viajante a cavalo olharia para mim e teria coragem de amarrar seu animal em meu tronco? Eu mereço o descaso, o abandono e a indiferença de todos!!! Quem mandou nascer e tentar crescer num mundo de pessoas egoístas, mesquinhas e que só valorizam as aparências? Quem mandou eu nascer sem forças para retirar da terra os sais minerais, os nutrientes necessários para crescer e produzir? Afinal, já constatei, isso é fato!... Sou inútil, improdutiva e sem beleza alguma! Eu mereço isso! Isis Dumont Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 05/09/2012
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