A Hora Derradeira Quem estará presente, Descontente ou sorridente Em meu velório?... Quem haverá de custear O enterro. O transporte. As flores... Os custos no Cartório. Se eu morrer de amores? Qual será o amigo mais amigo Que ao lado do caixão Vai estar comigo? Quem será, que durante o velório Dirá em alto e bom som, mas natural, Que em vida, preferi o bem ao mal? Quem será, que desajuizado, chorará Por não ter-me trazido, sequer Umas flores a mais? Quem estará a jogar, das rosas as pétalas No meu túmulo de poeta? Quem ousará recitar, lá no cemitério, Um dos meus sóbrios pensamentos ou Requintados versos de amor? Quem discursará palavras sensíveis A fim de fazer chorar de emoção O coração do homem mais insensível? Quem será, que louco, estará inclinado A soluçar e a derramar tantas lágrimas quentes, Que haverá de chamar a atenção dos presentes? Qual o amigo, que com feições abatidas, Com lágrimas caídas, balbuciará baixinho: -Tudo vai passar! Deus lhe dê a acolhida que não teve nessa vida! Quem serão os que, por outras razões Não haverão de comparecer E por isso, muito mais sofrerão? Quem serão os amigos que estarão com um doce sorriso, a cantar as canções românticas ao som de um violão, como tantas vezes, juntos o fizemos pelos que foram antes de mim? Quem será a figura esquisita, debruçada Sobre a janela, com um rosto desfigurado, Que estará a me abraçar e beijar Sendo preciso, à força, ser retirada. Quem será que ousará, sem lágrimas nos olhos Cantar para minha alma, os Salmos que aprecio E que tantas vezes cantei nos funerais que acompanhei? Quem serão àqueles, que, felizes ou arrasados Jogarão... as primeiras pás e punhados de terra Sobre o meu caixão? Quem haverá de custear o enterro, O transporte. As flores... Os custos no Cartório. Se eu morrer de amores? Isis Dumont 10/06/2012 Inspiração no Título “Hora Íntima” de Vinicius de Moraes. Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 10/06/2012
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