ONDE ESTÃO AS MINHAS MULHERES... Onde estão as minhas mulheres... jovens, meninas, namoradas, noivas, comprometidas, esperançosas... Onde estão as minhas mulheres... casadas, separadas, traídas ou traidoras, adúlteras, sofridas, oprimidas, exploradas discriminadas, difamadas... Onde estão as minhas mulheres... senhoras, maduras, idosas, benzedeiras, trabalhadoras, conselheiras, parideiras, largadas, abandonadas, com filhos para cuidar, viuvas, e viuvas de maridos vivos (ausentes naquele tempo de êxodo rural)... Onde estão as minhas mulheres... lavadeiras, passadeiras, rezadeiras, cantoras de ladainhas, de novenas, do mês de maio e dos terços da quaresma e da Medalha Milagrosa... Onde estão as minhas mulheres... grávidas todos os anos, de filhos pequenos nos braços e filhos pequenos segurando pela mão, subindo as ladeiras, buscando água na lagoa, nos açudes, lavando roupas no rio ou nos lagedos... Onde estão as minhas mulheres... de maridos largados, despojados, embriagados, desempregados, esquecidos, ausentes, distantes (no Rio de Janeiro, e muitos sem comunicação), e outros arrogantes e, muitas vezes cheios de razão. Onde estão as minhas mulheres... das cantigas na roça, contando os grãos, fincando o calcanhar no chão, e semeando o milho, a fava e o feijão. Arrancando da terra a batata, a mandioca, enchendo a carga, pegando pesos enormes, muitas vezes, grávidas, sem nenhuma compaixão... Onde estão as minhas mulheres... o dia inteiro nas casas de farinha, raspando mandioca, uma roda enorme, muitas conversas, muitas risadas, mas muito cansaço, noite a dentro peneirando a massa, preparando a goma, raspando o coco e assando o beiju para a filharada... Onde estão as minhas mulheres... analfabetas, sem profissão, ignoradas,de pés descalços, de pele tostada de sol e mãos cinzentas cheirando a sabão. Onde estão as minhas mulheres... cuidadoras dos animais, tiradeiras de leite, colhedoras dos frutos para alimentar sua prole numerosa, mulheres sofridas, tantas vezes chorosas, mas guerreiras, determinadas e vitoriosas... Apesar do tempo... Todas as mulheres ainda vivem em mim, nas minhas lembranças de infância... Isis Dumont Imagens do: Google. Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 27/03/2012
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