CARTAS DE AMOR
Faz muito tempo, mas parece que foi ontem. Era inverno intenso. Moravam em Estados diferentes. Mas a cada 2 ou 3 meses as visitas minimizavam as saudades que atormentavam o coração. Olhares trocados. Breves e fortes apertos de mão. Nesses momentos sempre acompanhados por terceiros. Na hora da despedida era impossível conter a emoção e a dor da separação. Sucessivas cartas apaixonadas chegavam semanalmente pelo correio. (Não havia telefone na região). Ela, apesar de não sentir o mesmo que ele, mas respondia as cartas da melhor maneira possível e o considerava como seu primeiro namorado. Havia muitas dúvidas entre saber o que realmente sentia. Declarações (redundantes) de amor eterno. Amor louco. Paixão arrebatadora. Desejos repetidos e confirmados (da parte dele) de compromisso "sério" e breve, a assustavam. Ele tinha apenas 17, e ela estava distante de completar 15 anos. Ninguém lhe dissera nada ou quase nada sobre o futuro, mas ela pensava apenas em estudar para ser, financeiramente independente. Era observadora da realidade. Não desejava a vida de dependência de algumas mulheres que conhecia. Ele homem-menino moleque, brincalhão, parecia imaturo. Ela não gostava do jeito, das atitudes de quem parecia que não crescera. E apesar de todo amor e carinho "escancarados" ela não o desejava mais do que como primo que era. Tímida (e vigiada) por avós, tios, primos mais velhos, nunca trocaram beijos, apesar de tanto desejo da parte dele. Conversavam pouco. Os anos passaram. Os dois cresceram, amadureceram. Cada um tomou seu destino. Certa vez, ela já casada e com filhos, ele fez uma bela surpresa. Era dia de Ano Novo. Às 04:ooh da manhã, ele chegou vestindo uma bela jaqueta jeans azul, de capacete preto e pilotando uma moto super potente. Viajara depois de meia noite de Natal/RN para João Pessoa. Já havia visitado outros familiares e chegava para lhe abraçar e desejar Feliz Ano Novo. Encontros como esse era sempre motivo de alegria. De matar a saudade (como primos, nada mais). Mas a vida é surpreendente. E o pior é que as surpresas muitas vezes revelam tragédias. Vicente, ainda bastante jovem, 38 anos, fora covardemente assassinado durante um assalto realizado por pessoas que não se conformavam em vê-lo possuir alguns bens, coisas de valor, adquiridas com esforço e muito trabalho digno. E mais: os acusados eram parentes da pessoa que deveria amá-lo de verdade e ajudá-lo a preservar a vida. Que sua bela alma possa estar em paz, no plano de Deus, sorrindo e feliz como fora em sua breve vida. Porque nesse mundo, para ser totalmente feliz precisa ser frio, insensível, louco ou pelo menos alienado. Hoje só resta a saudade. A lembrança jamais se apagará. Ela ainda chegou a pensar que se tivessem casados, isso não teria acontecido. Poderiam estar juntos. Ele não teria conhecido esses "monstros", talvez nem morasse em Natal. Isis Dumont Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 06/03/2012
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