Aparecida Ramos - Prosa e Verso
Palavras que a alma e o coração não calam.
Textos
Página por Página
Não sei precisar como, mas de repente me vejo bem mais forte. Levo a vida de uma forma diferente de antes; encarando os percalços com mais leveza. Carrego comigo o edifício cujas estruturas já não se abalam com pouca coisa. Isso não significa que me embruteci, mas apenas aprendi a administrar com certa serenidade os "conflitos".
Viajando, afastada do cotidiano "doméstico" e social, sinto a necessidade de corrigir e refazer o diário de minha vida. Tive paredes trincadas, corredores manchados, os quais precisei consertar, lavar e pintar. Goteiras que causavam incômodo no telhado, foram reparadas. Fechaduras substituídas e o mordomo passou por uma verdadeira e eficiente capacitação. Para adentrar meu santuário é preciso bater à porta, mas antes se faz necessário agendar o horário. Uma vez lá dentro, fica terminantemente proibido sair antes da segunda ordem.
Vale destacar para gente desavisada que é recomendável pisar com delicadeza os espaços do jardim. Lá estão semeados todos os meus sonhos. Estou atenta ao cultivo daqueles que floriram minha alma, deram um toque especial ao meu sorriso e encantaram meu coração.
Sonhos que, por um ou outro motivo tiveram seu crescimento atrofiado, foram podados para ressurgirem com mais energia e mais chances de realização. Os "excedentes" e que não não valem a pena cultivar, foram descartados.
Aprendi a ser desprendida, portanto, não tenho dificuldades para me desfazer de coisas supérfluas ou inúteis.
Encontrei algumas páginas encharcadas por lágrimas que a vida me trouxe, mas decidi deixá-las intactas. Já estão secas e servem apenas para lembrar a importância daquele momento ou as razões pelas quais não se contiveram dentro de mim.
As páginas amareladas simbolizam (orgulhosamente) meu mais de meio século de existência. Essas devem permanecer para me fazer lembrar todas as coisas boas que a vida me concedeu. Acrescentei nelas umas duas linhas sobre os ganhos incomparáveis que a maturidade me trouxe, entre esses está a capacidade de observação, de reflexão e a resiliência. Por outro lado, destruí totalmente as páginas rasuradas, borradas, as quais não foi possível corrigir.
Tenho o hábito de olhar da varanda a vida lá fora. Nesses momenetos vejo pessoas, coisas, eventos, os quais fiz questão de deixá-los livres, à vontade, se acaso quisessem retornar...
Minha tranquilidade é notória quando percebo o que tive e hoje já não sinto mais falta.
Preocupo-me em cultivar nessas páginas restantes as sementes do bem. Quero que um dia floresçam e frutifiquem, inclusive para beneficiar a quem me quis ou me fez algum mal.
Quero permanecer por toda minha vida sendo fonte acessível dos sentimentos bons. Quero continuar sendo ponte que aproxima, que reúne esforços para unir, sem jamais ser muro que separa, intriga, faz alguém sofrer.
Aprendi que não preciso ter pressa, que caminhando um pouco mais devagar, sou mais delicada e que meu "charme" não se resume ao que visto ou uso, nem às minhas palavras "retocadas", mas pode ser apreciado mesmo de longe, por quem aprendeu a fazer com sabedoria leituras de alma. Entendo que, para quem possui "essência", acessórios podem ser irrelevantes no quesito: "chamar atenção".
Não tenho nem terei tudo que almejo ou um dia sonhei, mas tenho o suficiente para viver feliz, sem ambições demedidas e em paz. Levo uma vida "simples", mas com dignidade e sempre disposta a acolher mãos estendidas.
Se existe "Destino", eu sempre caminhei em sua construção e continuo a cada dia fazendo e refazendo o meu.
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Carinhosamente:
Alguém que...
Escreve com emoção,
sabe ouvir em silêncio e
perdoar de coração;
compreende o incomprensível e
ama também sem razão.
Eu! rs
Foto (celular) abaixo: minha mão segurando o livro (presente) recebido do poeta querido Recantista Miguel Carqueija, ao qual agradeço publicamente a carinhosa lembrança, apesar de já haver feito isso por e-mail!
"Farei Meu Destino"
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 27/10/2014
Alterado em 25/11/2014
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