Aparecida Ramos - Prosa e Verso
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A VIZINHA DO PRIMEIRO ANDAR

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Edilza era seu nome. Era de cor branca, alta, cabelos castanhos escuros, curtos, tinha olhos escuros, nariz afilado e um corpo de causar inveja a muitas mulheres que moravam na mesma rua. Suas belas pernas chamavam a atenção, principalmente pelos vestidos justos e curtos que usava. Diariamente, pela manhã, saía de casa sempre bem arrumada, usava jóias e batom vermelho, salto alto e vestidos bastante curtos e decotados, o que fazia com que marcasse ainda mais suas curvas generosas. Sei que minha vizinha era mãe de duas crianças pequenas, que ficavam sozinhas o dia quase todo, com as portas fechadas, apenas uma janela aberta, através da qual uma vizinha e amiga olhava os meninos. Eu a via sair sempre de carona, todas as manhãs, num carro vermelho que pertencia ao marido da tal vizinha que olhava as crianças, o mesmo era taxista. Não lembro de ter ouvido falar alguma vez sobre o local de trabalho e a profissão de Edilza. Mas lembro que muitas e muitas vezes observei as outras mulheres tecendo comentários maldosos a respeito da vizinha um tanto "misteriosa." Olhares atravessados, conversas ao pé do ouvido daquelas comadres e dos homens, também era o que não faltavamm. Os ouvidos e olhares das pessoas desocupadas da "Rua Antonio Basílio", em Natal/RN, estavam permanentemente voltados para espionar a vida da vizinha do primeiro andar. Eu tinha apenas 11 anos, mas hoje consigo voltar a olhar no retrovisor do tempo decorrido e assim consigo traçar um perfil daquela bela e independente mulher. Eu não entendia bem e nem sabia ao certo o que aquelas pessoas conversavam a respeito da mais charmosa e simpática vizinha, mas acho que ela não merecia ser tratada daquela maneira. Penso que  era mãe solteira ou separada. Imagino o quanto sofreu para criar os filhos, quando, naquele tempo (1969/1970) não havia nenhuma lei obrigando os pais a pagarem pensão alimentícia. Apesar da minha pouca idade, eu nunca presenciei Edilza na companhia de pessoas de má conduta, nem exibindo comportamento suspeito. Mas sei que ela era alvo de olhares insinuosos dos homens daquela rua e da desconfiança e quem sabe, inveja das mulheres ciumentas, inseguras e mal amadas. Lembro dela como uma pessoa educada, gentil e muito simpática. Sempre no final da tarde eu a via retornado para casa, após um dia de trabalho, talvez bastante cansativo e muito mal remunerado, bem mais que nos dias atuais. Penso também no preconceito que enfrentava numa sociedade onde, após quatro décadas, o preconceito e a discriminação ainda são muito fortes, e diariamente produz suas vítimas em todos os recantos desse Brasil, apesar de tantos avanços na legislação brasileira. Vejo que a minha vizinha era aquilo que se pode chamar "uma mulher à frente de seu tempo."
Isis Dumont
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 02/02/2012
Alterado em 02/02/2012
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